GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA – PARTE II

Temos, hoje, no mundo, um bilhão de adolescentes , representando vinte por cento da população mundial. Destes, quase oitenta por cento vivem em países em desenvolvimento. Uma em cada cinco pessoas estão na faixa de dez a dezenove anos, e destas, quatorze milhões dão à luz, a cada ano. Oitenta por cento destes adolescentes vivem em países pobres.

Pratica-se no mundo 55 mil abortos inseguros por dia; 95% são em países do terceiro mundo e dez em cada cem são realizados por adolescentes.

O Brasil tem hoje 36 milhões de adolescentes (1/5 de sua população total). Segundo o Ministério da Saúde um milhão de meninas ficam grávidas anualmente, em nosso país, antes dos vinte anos.

Dezoito por cento das adolescentes brasileiras já tiveram um filho ou estão grávidas (o percentual é mais elevado na zona rural que na urbana).

Tem havido, desde 1980, uma preocupação crescente com a gravidez na adolescência. Apesar disto, a fecundidade nesta fase vem aumentando, principalmente na adolescência inicial. Constatou-se um agravante : a taxa de fecundidade é extremamente elevada nos grupos de baixa renda e nos grupos com menor escolaridade.

Existem fatores de risco para a ocorrência de gravidez na adolescência. O conhecimento destes fatores é importante para a detecção das adolescentes com risco iminente para engravidar. Assim fazendo, pode-se tentar uma atenção preventiva especial.

Porque a adolescente engravida? Pesquisa recente mostra que não é por falta de conhecimento. Elas sabem muito sobre os métodos existentes para evitar a gravidez. O problema é que não fazem uso deles.

Quando a criança chega à puberdade, sofre profundas modificações físicas e emocionais. A criança faz esta passagem carregando sentimentos de perda : perde o corpo infantil, perde o mundo infantil e também os pais infantis. Aí, ao invés de construir uma identidade positiva, constrói uma identidade negativa. Com a auto-estima baixa, torna-se vulnerável e sem capacidade de resistência. É nesta fase que a adolescente tem contato com a sua sexualidade, que está explodindo por ação dos hormônios sexuais.

A idade atual para a primeira experiência sexual está entre 14 e 17 anos. A primeira menstruação ocorre por volta dos doze anos, um ano mais cedo que na década de setenta.

A adolescente de 14 anos não tem auto-estima e segurança para dizer que sem camisinha não tem relação, que sem proteção não tem relação. A adolescente tem sentimento, tem emoção, mas tem insegurança. A primeira relação sexual acontece com medo de não agradar, sem que a adolescente se sinta preparada para a sua iniciação sexual. Ocorre sob sentimentos conflitantes, com um adolescente também inseguro, neste caso com medo de falhar. O resultado não é sexo prazeroso, é uma gravidez não planejada, não desejada, que leva a um outro resultado : mudanças na vida familiar, na vida afetiva, na vida social e nos planos relativos à formação profissional.

Um dado alarmante é que no prazo de 40 meses a adolescente que engravidou uma vez vai engravidar novamente Ela não aprende com a gravidez, não aprende com a dor, não muda seu comportamento. Continua insegura e vulnerável.

A cada 17 minutos nasce uma criança filha de uma criança de 10 a 14 anos.

Em vista destas considerações, é necessário que se trabalhe muito na educação sexual e na capacitação de pais e professores, para que possam ministrar esta educação de forma correta e efetiva.

O fenômeno da gravidez na adolescência é muito mais que mera curiosidade. Trata-se de um grave problema social, cultural, pessoal e familiar. Este problema precisa ser compreendido pela sociedade e pela classe dirigente. Carece de ações concretas, diferentes das que estamos habituados a presenciar por parte da maioria de nossos governantes.