Anticoncepcional hormonal e câncer de mama
Há muito se investiga a ligação entre hormônios e câncer. Nesse cenário, o câncer de mama se destaca, em razão da conhecida associação entre os hormônios femininos: estrogênio e progesterona e o desenvolvimento do câncer mamário. Em função disso, o uso de medicamentos hormonais continua sendo persistentemente investigado como possível fator de risco para uma mulher desenvolver um câncer de mama.
Recentemente, um importante estudo realizado na Dinamarca e publicado em um dos mais respeitados jornais médicos, o New England Journal of Medicine, avaliou, novamente, se o uso de anticoncepcionais hormonais está ou não associado ao aumento de risco para desenvolver câncer de mama. O estudo, que representa o maior realizado até hoje sobre o tema, envolveu cerca de 1,8 milhão de mulheres, entre 15 e 49 anos, que foram acompanhadas por um tempo médio de aproximadamente 11 anos. Os pesquisadores encontraram um pequeno aumento de risco para usuárias de anticoncepcionais hormonais combinados (aqueles contendo estrogênio e progesterona) e para usuárias de sistema intrauterino (DIU de progesterona). Não houve associação de risco para os métodos de progesterona isolada na forma oral e injetável. E também não houve diferença significativa entre as várias formulações de pílulas anticoncepcionais avaliadas. Outro achado é que o tempo de uso pode contribuir para esse aumento de risco e que este efeito “potencializador” se reduz novamente com o passar do tempo após a interrupção do uso. A ilustração dos números encontrados é de como se usar anticoncepcional hormonal propiciasse 1 caso a mais de câncer de mama para cada 7.690 mulheres por ano.
É sempre importante ressaltar que o aumento de risco se mostrou de pequena magnitude, não representando uma contraindicação para a grande maioria das pacientes. Além disso, deve-se avaliar os pontos positivos dos contraceptivos hormonais, como: eficiência anticoncepcional; efeitos benéficos sobre o ciclo menstrual; tratamento de sintomas menstruais e de endometriose, por exemplo; diminuição do risco de câncer de ovário, câncer de endométrio e, possivelmente, de câncer colorretal, na hora de se decidir ou não pelo seu uso.
É fundamental e imprescindível que toda mulher realize uma boa avaliação ginecológica no momento de se definir qual método anticoncepcional será utilizado. Em termos práticos, os resultados deste relevante estudo não modificam de maneira significativa a prescrição e a indicação dos contraceptivos, mas torna ainda mais importante a avaliação do Ginecologista no contexto da saúde da mulher.